sábado, 2 de maio de 2015

Brasileiros descobrem nova espécie de lagarto sem patas na caatinga

"Tudo indica que esses bichos hiperespecializados para a vida em terreno arenoso se diversificaram muito rapidamente, em uns 9 milhões de anos, com as espécies mais recentes tendo se diferenciado há 1 milhão ou 2 milhões de anos", contou ao G1Miguel Trefaut Rodrigues, pesquisador do Departamento de Zoologia da USP e um dos responsáveis pela descoberta. Junto com sua colega Ednilza Maranhão dos Santos, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rodrigues publicou a descrição formal do S. catimbau -- ou "escrivão", como é conhecido pelos moradores da área onde vive -- na revista científica "Zootaxa".

O trabalho integra um projeto autorizado pelo Ibama, batizado de "Anfíbios e répteis do sertão de Pernambuco - indicadores de conservação", coordenado por Santos e integrado por uma equipe de nove alunos de graduação da Unidade Acadêmica de Serra Talhada, um novo campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Apesar da grande quantidade de bichos recentemente descobertos nas dunas nordestinas, oS. catimbau é tão diferente das demais que mereceu a denominação não só de uma espécie, mas de um gênero novo (o Scriptosaura; o gênero é a primeira parte do nome oficial de qualquer ser vivo, tal como o gênero Homo, ao qual pertence a nossa espécie, Homo sapiens).

Foto: ReproduçãoTanto o nome científico quanto o popular, aliás, são facilmente explicáveis. O réptil foi encontrado no Parque Nacional do Catimbau, e os rastros sinuosos que ele deixa na areia (visíveis na imagem abaixo) explicam o apelido de escrivão. "Na verdade, ele se desloca por ondulações uns três milímetros debaixo da areia, formando morrinhos. Depois que o bicho passa, esses morrinhos desabam, formando o rastro", conta Rodrigues. "Ele provavelmente também só se alimenta debaixo da terra", diz o pesquisador. Segundo Rodrigues, a alimentação do escrivão provavelmente é composta por pequenos invertebrados, como larvas de besouros e borboletas.

A adaptação para "nadar" na areia e se enterrar é tão completa que restou ao bicho apenas vestígios modestíssimos -- dois filetes -- das patas de trás e nada das patas da frente. O resto da anatomia, no entanto, deixa claro que esse e os outros bichos do tipo chegaram a essa solução evolutiva de forma independente das cobras, com as quais eles se parecem muito superficialmente. Alguns dos primos do escrivão chegam mesmo a ter uma escama tapando os olhos, sendo completamente cegos, coisa que não se vê na nova espécie. 
 
Criaturas desse tipo estão distribuídas de forma desigual pelos solos arenosos nordestinos, em especial por dunas do curso médio do rio São Francisco. É possível que houvesse há milhões de anos uma região arenosa muito maior, que foi sendo fragmentada pelo rio, por exemplo, o que teria estimulado a formação de novas espécies ao longo do tempo.

Fonte:http://g1.globo.com/